IV. Negociar

Não sabia que a combinação perfeita entre o mundo e a memória residia dentro da jarra de hidrângeas que apodreciam vagarosamente, ao som tiquetaqueante do pêndulo dourado do relógio de sala que lhe perturbava o sono.
Tentava fechar os olhos; negociava com o cérebro que aquele era o momento em que deveria adormecer. Esquecer todos os problemas que a sacudiam e atiravam ao chão de gravilha. As mãos pequenas e os joelhos escuros estavam arranhados, assemelhando-a a uma penitente involuntária.
Não reconhecia os olhares espasmódicos do espelho que a fitava, assustado, ainda com sete azarados anos a decorrerem-lhe na fita métrica do louco e bêbado tempo, tão pouco sóbrio de si quanto do que pensava pensar sobre o pensamento humano; cansado, de coração apertado.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.