XV. Transparecer

Escrevo no caderno as gotas de chuva que não colho; semeio os bem-quereres que não chovem.
Já passou a primavera, que te fez abotoar neles. Mas isso foi há alguns séculos atrás, noutras vidas, noutros corpos; nos mesmos corações. Agora, nascem os frutos. São venenosos, mortíferos, os pomos que semeei.
Mas nunca, nunca saberás que esses são os frutos com que maior deleite saboreio, no limiar da morte, no lumiar dos teus olhos e dos nossos braços enleados. Nunca o sonharás, nunca o meu corpo o transparecerá mais do que o que a minha alma faz; lavada em fonte, aos teus pés prostrada.

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L.C.