II. Cheirar

Não era a primeira vez que, durante a noite, acordava com a sensação das mãos pequenas de sempre a afagar-lhe a barba do pescoço e o cabelo farto que lhe sobrava na testa. Essa era umas das vezes em que o lado esquerdo da cama estava gelado, mas continuava a cheirar a pêssego.
Não era a primeira vez que o som das teclas do piano lhe cheirava a amoras apaixonadas, que os raios brancos de sol nascente que atravessavam as cortinas de renda lhe cheiravam ao chá de limonete que, carinhosamente, ela lhe preparava todas as manhãs.
Não era a primeira vez que olhava o céu e desejava que, onde quer que ela estivesse, rogasse às estrelas por um lugar para ele, mesmo ao lado dela. Lá, onde cheira a paz.

1 comentário:

Jéssica Cardoso disse...

cheira a passagens pelo horizonte aqui... que inebria.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.