Ergue-se Dafne


Reza a lenda que ele era belíssimo, possante com o seu arco de prata. Altivo quanto o mar encrespado, conhecedor da sua força.
E por amor se quedou. De marés baixas e submissas aos encantos afogueados da ninfa de Peneu.
E, da flecha do querubim, voou a sua perdição: o Amor em Apolo e o Chumbo em Dafne.
A correria desmedida pela floresta do Olimpo. Um coração que se não deixa amar e a cegueira, provocada por uma paixão de cura e de peste, que o persegue, impondo a possessão carnal à maior pureza já vista por terras de titãs.
E, cada vez mais próximo, alcançando já os fios de oiro suplicantes, Apolo vê-se tão louco quanto apaixonado. E a sua demanda é, então, em vão.
Um corpo adormecido, a pele áspera. Os caracóis doirados transformados em finas joias de verde. Os braços, antes calorosos, onde se perderiam os jovens ardentes, transformam-se em galhos fortes, de cheiro intenso. Os seus pequenos pezinhos confundem-se com o solo escabroso e unem-se a Gaia. São raízes, agora.
Como rei destronado, Apolo cai aos pés da árvore, chorando o seu grande amor. Chorando os seus erros. Abraça-a e soluça por perdão, por Dafne.
Mas Dafne partiu e nada mais resta do que uma coroa de louro sobre a cabeça, que ferirá mais do que uma de espinhos sobre o peito.

1 comentário:

Lúcia disse...

obrigada eu :) tenho andado bem, dentro dos possíveis, e tu? :))

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.